sábado, 8 de junho de 2013

Sobre crianças e lobos...



Difícil foi encontrar uma abordagem adequada para apresentar a história de hoje, tão peculiar, tão intensa, tão fantasiosa... e ao mesmo tempo, tão  realista.

Com uma narrativa diferenciada, em que os diálogos são secundários, e as imagens nos contam, em uma fração de segundos, o que seria necessário ser contado em mais de milhões de palavras...

A história de um amor sincero, profundo e robusto, inabalável e que transcende a todos os padrões impostos pela “boa”  [e um tanto duvidosa] opinião humana... o amor entre uma mulher humana e um homem-lobo... 


Não estou aqui fazendo apologia a nenhum tipo de permissividade ou promiscuidade, que anda por aí assolando a mente humana por todos os cantos e recantos do mundo...

Falo dos relacionamentos, ou qualquer outro tipo de atitude que discorda do [mal] senso comum de uma sociedade hipócrita e tendenciosa que tem o [mal] hábito de julgar, rotular e condenar tudo que esteja dissonante do seu próprio [mal] juízo.

É o tipo de assunto que dá “pano pra manga”, e não é o caso nos estendermos por tais questões cristalizadas na opinião humana... vamo-nos ater a essa singela e sui generis relação:  mãe e seus filhotes – literalmente – meio humanos, meio lobos...


Eu, particularmente, amo fazer essas viagens fantásticas pelo imaginário humano... porque através delas, é possível viver ao extremo o impossível... o surreal... o abstrato... o avesso, no bom sentido... ^_^ 

O “filme” [ É filme? Animação? Ova? Ona? Heim?????  O.õ ... não sei... deve ser filme mesmo... ^_^ ]... Então... o filme aborda a delicada relação de uma jovem mãe que se apaixona por um jovem homem lobo, e prematuramente, encontra-se viúva com dois lobinhos para criar... [adoráveis, diga-se de passagem... <3 ]...  e essa tarefa duplamente árdua, será mostrada em todas as suas nuances e sutilezas, de uma forma poética e ao mesmo tempo visceral... 

O Diretor soube explorar todos [ou quase todos...] os ângulos dessa questão sobre as diferenças, trazendo à reflexão o medo, a insegurança, incertezas, dúvidas... mas também,  a força, a determinação, a coragem... a sinceridade... a pureza de sentimentos e a fidelidade a um objetivo...

 
Outro aspecto interessante sobre a maneira como a história foi contada, está justamente no fato de ser narrada em flashback por Yuki, a primogênita de Hana, com um certo “quê” de nostalgia, e talvez... eu disse talvez devido ao meu alto grau de imaginação... um pouco de arrependimento... [hããããããã???? Como assim? O.õ ...]

Bom... vai ser impossível não contar um pouco da história... mas é claro... será sob o meu ponto de vista personalíssimo, então, meu caro leitor, você tem duas opções:  a primeira é ler imparcialmente o meu texto e assistir o filme...  a segunda, é, ver o filme e depois ler o texto... e agora ainda me ocorreu a terceira... veja o filme e já está de bom tamanho... mas eu realmente vou ficar muito feliz se você depois resolver ler o texto... >.< ...

Então...

Hana é uma jovem universitária por volta dos 19 anos de idade que se sentiu curiosa e atraída por um rapaz muito silencioso e distante de sua classe... Hana é uma menina de origem humilde que trabalha arduamente para custear seus estudos, pois ao que tudo indica, ela é órfã...  Mas apesar dessas dificuldades Hana é batalhadora e está sempre com um sorriso gentil em seu bonito rosto... 

Bem... talvez Hana seja de uma beleza comum... mas o sorriso sincero de um coração verdadeiro ilumina qualquer dia tempestuoso... e deixa todo rosto bonito...
No entanto, o Diretor não se prendeu a detalhes importantes como nomes de família ou beleza escultural... considero que a preocupação maior dele aqui é mostrar a transparência da alma humana... [voltando a história...]

Hana gradativamente vai se aproximando do jovem, que... sabe-se lá porque, não tem um nome na história... seria intencional? Ou mero descuido? Bem... particularmente creio que foi intencional, tanto quanto não era fundamental que as personagens ostentassem um nome familiar... Hana vai cativando  e cultivando seu relacionamento com esse jovem que se tornou seu amor verdadeiro... até o dia em que ele se vê na contingência de revelar seu segredo a ela...

O amor que emana do coração de Hana, é maior que qualquer grande segredo que possa apresentar-se a ela, que já superou várias dificuldades em sua vida...  e mesmo quando lhe é revelado que o seu amado é um homem-lobo [lobisomem??? ... hummmm... acho que não... ]ela, apesar de perplexa com a realidade que se depara diante dos seus olhos, não se sente enganada, nem constrangida... não faz nenhum draminha patético...

Ao contrário... creio que Hana se sentiu amada... e digna... digna da confiança daquele homem, pois, ao confiar a ela seu segredo, ele deu sua maior prova de amor...
Entre imagens e músicas, e ocasionalmente a voz da personagem Yuki narrando os fatos, vamos descortinando a vida desse casal que resolve superar diferenças, e encarar a vida com amor, coragem e ousadia...

A direção impecável de Hosoda Mamoru conduz a história num ritmo calmo, sem ser maçante, a gente nem percebe o tempo passar, devido à riqueza de detalhes de conteúdo, devido à maneira como ele entrelaça os acontecimentos e épocas de forma a não ficar um roteiro cansativo, devido a harmonia entre imagens e trilha sonora...

O diretor aborda todo o romantismo lírico da vida de recém casados de  Hana e seu jovem marido, da gravidez de seus dois filhos: Yuki a primogênita que nasceu em um dia de nevasca, originando assim o seu nome... e Ame, o caçula, que nasceu em um dia de chuva intensa, vindo daí o seu nome; e logo, a tragédia que se abate sobre a vida de Hana, quando prematuramente se encontra na difícil situação de ter que educar e criar seus dois filhos sozinha, devido a morte prematura de seu marido...

Nessa parte eu confesso que tive vontade de sumir... mas reconheço que apesar de ter meu coração partido, o fato propriamente dito, ou seja, a morte,  está de acordo com o contexto... mesmo eu querendo um final feliz para o casal de protagonistas... o que destoa foi a maneira como essa morte foi colocada no contexto, a “causa mortis” em si... isso foi demasiadamente desconcertante...

Então as situações e dificuldades de Hana vão se sucedendo... e, se ser mãe de crianças cem por cento humanas já é complicado... mesmo assistindo o filme, nem de perto dá pra imaginar o que seria ser mãe de crianças meio humanas, meio lobos...  todo esse drama é passado ao espectador, através de imagens e música... e ocasionalmente, alguma fala...
Os anos passam e Hana se vê diante de uma nova perspectiva, mudar-se para o interior a fim de proteger a identidade de seus filhos.

Aqui nos deparamos com o contraste da personalidade dos irmãos, Yuki totalmente a vontade sem eu novo ambiente, e seu irmão completamente deslocado, ansioso por retornar à “sua casa”, na cidade...

Os anos vão passando no seu ritmo próprio... as crianças vão crescendo e, à medida que crescem vão formando seu caráter e personalidade... e no interior Hana continua enfrentando novos desafios...

Gradativamente, o comportamento das crianças vai se delineando num sentido oposto ao que se apresentava até então, com Yuki cada vez mais distante de seu lado lobo, que antes a fazia tão feliz, e seu irmão, cada vez mais introspectivo, afastando-se mais e mais de seu lado humano...

E no momento do auge da crise entre os irmãos, é que foi possível constatar a fragilidade e suscetibilidade do relacionamento familiar... a metáfora é brilhante, genial... quando os dois irmãos se desentendem, tornam-se feras avassaladoras, assustadoras... incontroláveis... e nem mesmo o apelo maternal impede que os dois se atraquem e praticamente destruam a casa... é o lado lobo de todo ser humano... um paradoxo...

No momento seguinte é possível constatar que Hana, apesar de frágil, é determinada a viver e/ou morrer por seus filhos, desde que considere que eles estão em perigo... e ela não poupa esforços ou sacrifícios para protegê-los.

Então... de repente... somos obrigados a voltar para essa realidade paralela do lado de cá... ¬¬ ... de forma abrupta... e mais uma vez eu fiquei perplexa pelo desfecho da trama... só que agora, um tanto revoltada também...

Depois de tudo que aconteceu, Hana fica novamente sozinha com suas lembranças e a saudade daquele que foi seu único amor...
Como Assim??? A família toda [ou quase toda...] vai morrer??? Calma... calma... nada disso... no final, apenas me deparei com uma triste realidade... humanos ou meio humanos, filhos crescem e um dia eles se vão porta a fora, sem ao menos olhar pra trás... vão viver suas vidas de acordo com suas escolhas... isso até é natural... mas creio que o que abala mesmo, é a maneira como eles saem das nossas vidas...

Não importa que explicação tenha... porque é óbvio que existem muitas explicações... a questão é... : será que existe justificativa?

Eu realmente fiquei triste por ver Hana solitária, embora ela jamais houvesse reclamado... mas fiquei também indignada pela maneira como seu filho se foi... e nunca mais voltou... ele foi no mínimo: egoísta...

Mais uma vez eu me senti caindo no vácuo... num abismo sem explicações... e foi justamente o que faltou a esse final que eu não posso de forma nenhuma considerar  feliz...

Ficou faltando alguma coisa... ou muita coisa... eu não me importaria se tivesse um segundo longa, ou mesmo um curta que esclarecesse se esses filhos abandonaram completamente a mãe que tanto sofreu e batalhou por eles...

Mas Hana vai seguir sua vida, sempre conservando em seu coração o amor por aqueles que foram as pessoas mais importantes em sua vida... seu pai... [curiosamente não se faz referência nenhuma à mãe de Hana...], seu marido homem-lobo, e seus filhos, meio humanos, meio lobos... 







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